domingo, dezembro 24, 2006

Hoje é Dia de Natal

DIA DE NATAL

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão



6 comentários:

Anónimo disse...

Ainda me lembro quem nos deu a conhecer esse poema...parece que foi ontem,hein?:)

Feliz Natal para ti também!(Embora Natal mesmo seja só amanhã!);)

Bjinho natalício!!

david santos disse...

Olá!
Lindo texto, Ana.
Parabéns.

Anónimo disse...

Ai ai se isso fosse verdade!

Fábio Costa disse...

Tambem gosto desse poema! Foi muito bem escolhido!
Feliz NATAL!!
Beijinhos

Anónimo disse...

OI. embora não te conheça fui parar ao teu blog e vi que tens aqui algumas coisas até bastante giras. não espero que deixes o meu comentário visivel até porque não é esse o meu comentário. apenas te queira alertar para os erros que tens nos textos. é que de facto tens um vocabulário muito bom e fazes um excelente uso dele mas depois deixas alguns "enterranços". espero que não leves a mal e que corrijas pois isto ajuda a que as pessoas tenham uma imagem dos famalicenses como incultos. coisa que não me pareces nada ser.
eu tinha como objectivo alertar-te para isso porque por vezes não reparamos ao pormenor no que escrevemos.trabalho feito por isso só me resta desejar-te boa sorte. (assim tu corriges e ninguém sabe :)

Anónimo disse...

eu disse que por vezes não reparamos no que escrevmos... é que não ha maior prova disso do que o meu texto...
"não espero que deixes o meu comentário visivel até porque não é esse o meu comentário." isto era suposto ser "não espero que deixes o meu comentário visivel, até porque não é esse o meu objectivo."